1ª Mostra Cinema dos Quilombos

1ª Mostra Cinema dos Quilombos – 2020


A mostra aconteceu de forma online, por conta da pandemia, de 22/8/20 a 13/9/20. Foi um resultado parcial de uma pesquisa/levantamento iniciada em junho de 2020 sobre o cinema feito nos quilombos no Brasil. Até agosto de 2020 havíamos recebido mais de 40 inscrições de filmes feitos por quilombolas e por não quilombolas aliados nas lutas.

O evento contou com o lançamento do curta “Nove águas” (Gabriel Martins e Quilombo dos Marques / 2019), exibição de filmes e roda de conversa com cineastas quilombolas.  Agosto foi escolhido por conta do aniversário da Conferência de Durban e da criação da Fundação Palmares: marcos fundamentais da discussão étnico-racial no Brasil.


FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES

É a instituição pública responsável pela promoção e preservação da arte e cultura afro-brasileira, fruto das lutas do movimento negro pelo reconhecimento de Zumbi do Quilombo dos Palmares como grande herói e líder nacional.  Desde sua criação a Fundação teve importante papel na criação de documentos, publicações e políticas de fomento que valorizem e promovam as manifestações culturais negras, figurando como referência institucional no apoio e aplicação da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da História da África e Afro-brasileira nas escolas. A Fundação Palmares também é responsável pela certificação das comunidades quilombolas e em seus 32 anos de existência já emitiu mais de 3.168 certificados. Atualmente, a instituição vem sendo descaracterizada e precarizada, tendo sido transferida para o ministério do turismo e sob a presidência de Sérgio Camargo, um negro que nega o racismo já comprovado no Brasil.

Ocorreu em agosto 2001 na África do Sul e foi um marco histórico para muitas organizações antirracistas. Convocada pela ONU como a III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, o evento reuniu 173 países, 4 mil organizações não governamentais e 16 mil delegados sendo 42 deles brasileiros. A delegação brasileira cumpriu um importante papel na conferência que encontrou dificuldade em aprovar os documentos finais que orientariam as políticas de combate ao racismo nos países adeptos. Foi nessa conferência que o Brasil apresentou as proposta de políticas afirmativas galgadas durante mais de 30 anos de luta do movimento negro brasileiro, obtendo reconhecimento internacional importante para a implementação do que hoje conhecemos como Estatuto da Igualdade Racial. 

CONFERÊNCIA DE DURBAN


Homenageando estes dois marcos para a discussão étnico-racial no Brasil é que convidamos a todxs para as atividades da mostra que pretendeu ampliar a visibilidade da pauta quilombola e dos processos de resistência dessas comunidades num cenário de tamanho ataque aos seus direitos constitucionais.

A mostra incluiu “Sonhos de um negro”, uma das primeiras ficções dirigida por um quilombola. “Olhar caiçara na comunidade quilombola”, “Olhar quilombola na comunidade indígena”, “Blackout” e “Nove águas” – que têm em comum o fato de serem filmes realizados em contexto de oficinas e a presença destas obras chama a atenção para a necessidade de que se ampliem as atividades formativas em audiovisual nas comunidades tradicionais. “Sússia” e “As contas do Rosário” trazem manifestações culturais de quilombos, um rural e outro urbano.

Quanto ao “Nove águas”, nesta mostra celebramos seu lançamento na internet, após ter realizado uma ampla circulação por festivais de cinema. 

A mostra destacou ainda o chamado em fluxo contínuo para recebimento de filmes de quilombos, mantendo aberto o caminho para mostras futuras.

A curadoria da 1ª Mostra ficou a cargo de Alessandra Brito, Maya Quilolo e Cardes Amâncio.

A Mostra contou com patrocínio da MGS e foi realizada com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Cinecipó – Festival de Cinema – projeto 1003/2017.


Programação


 Sonhos de um negro | Danilo Candombe | 2004 | 9min 36
O filme se passa nos tempos de cativeiro, com a vida sofrida dos negros trabalhando aos olhos do Feitor. Um sonho cheio de alegria e união. Um sonho de liberdade de um negro, que acorda com a dor de uma chibatada, mas que ainda assim espera sua libertação.

Olhar caiçara na comunidade quilombola | dir. coletiva | 2018 | 10 min
Em 2018 em parceria SESC Cultural Paraty/RJ foi realizada a ação “Trocando Olhares” onde integrantes das comunidades caiçaras, indígenas e quilombolas criaram seis curtas metragens que tratam das questões ligadas ao território. Essa é a oportunidade de conferir esses diálogos cinematográficos.

Olhar quilombola na comunidade indígena | dir. coletiva | 2018 | 5 min
Em 2018 em parceria SESC Cultural Paraty/RJ foi realizada a ação “Trocando Olhares” onde integrantes das comunidades caiçaras, indígenas e quilombolas criaram seis curtas metragens que tratam das questões ligadas ao território. Essa é a oportunidade de conferir esses diálogos cinematográficos.

Sússia | Lucrécia Dias | 2018 | 17 min
Ao som de caixas, pandeiros e bumbos, mulheres e homens de todas as idades cantam, tocam,batem palmas, dançam, recriam as tradições e recontam sua própria história na Comunidade Quilombola Lagoa da Pedra.
 

As Contas do Rosário – (dir. Maycol Mundoca, 2020)
Apresentação da trajetória do grupo de Manifestação Afro-Brasileira: “Moçambique Zumbi dos Palmares”, que anualmente se apresenta na Congada, um cortejo popular realizado há séculos por descendentes de Africanos em Solo Brasileiro. O grupo se situa em um Quilombo Urbano de onde emanam narrativas contra-hegemônicas.

Blackout | Adalmir José da SIlva, Felipe Peres Calheiros, Francisco Mendes, Jocicleide Valdeci de Oliveira, Jocilene Valdeci de Oliveira, Martinho Mendes, Paulo Sano, Sérgio Santos | 2016 | 12 min
Quilombo de Conceição das Crioulas, Salgueiro, sertão pernambucano, nordeste do Brasil. Um filme sobre o invisível.

Nove águas | Gabriel Martins e Quilombo dos Marques | 2019 | 25 min
Em 1930, Marcos e seu grupo de descendentes de escravizados saíram do Vale do Jequitinhonha rumo ao Vale do Mucuri. Fugindo da seca, da fome e da violência no campo, os quilombolas buscavam uma novo território para construir sua comunidade. Dos tempos do desbravamento aos atuais, a história de luta por água e terra protagonizada pelos moradores do Quilombo Marques, no Vale do Mucuri, em Minas Gerais.


Live


Encontro de realizadores quilombolas | 27/8 |17hs

Com Danilo Candombe, Fábio Martins, Lucrécia Dias e Maycol Mundoca. 

Mediação: Alessandra Brito / Maya Quilolo

Assista à gravação.